Guernica, o quadro que Pablo Picasso pintou quase imediatamente a seguir ao bombardeamento desta cidade pelos nazis, foi mote para o debate A Arte e a Luta Política, realizado na sexta-feira à noite, no Auditório do Espaço Central.
Com o seu quadro Guernica – que mereceu na Festa um espaço específico –, Picasso quis mostrar que «uma das faces da humanidade é a barbárie» e, por outro lado, que o artista pode ser agente e simultaneamente independente. Quem o diz é Pedro Pousada, que lembra ter Guernica inspirado toda a vanguarda artística da época, levando à criação de inúmeras obras, nomeadamente de grandes escritores e poetas.
Para José Casanova, esta obra de Picasso é o exemplo maior da arte na luta política, pois com ela o artista interveio intencionalmente contra a guerra e pela paz, na sequência do bombardeamento indiscriminado da população pela aviação alemã. Também José Casanova considera que esta obra foi motivadora de outras obras de arte, nomeadamente em Portugal. Lembrou, a título de exemplo, poemas de Eugénio de Andrade, de Álvaro Feijó, de José Terra ou de Carlos Oliveira. Aliás, na segunda metade da década de 30, surgiu toda uma geração de intelectuais com uma importante acção na luta política, Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes, Júlio Pomar, Manuel da Fonseca, Fernando Lopes Graça e muitos mais. Todos na linha de intervenção de Picasso, da arte na luta política.
Manuel Gusmão, que presidiu ao debate, lembrou, entre outras considerações, a reflexão de Álvaro Cunhal na sua obra «A Arte, o artista e a sociedade» e inscrita numa das paredes do espaço Guernica: «Guernica foi uma obra possível e quase “milagrosa” pela junção de um excepcional talento artístico e de uma poderosa e imperativa indignação, vontade e determinação de, num momento concreto, intervir com a própria arte na vida social, levar uma convincente mensagem à humanidade».
Carlos Vidal diz ser Guernica uma obra «exemplar» e «intemporal», que «representa o trágico na sua plenitude» e considera que aquilo a que chama «arte política» se distingue, entre outros aspectos, por «bloquear a informação rápida, o acesso imediato ao sentido», levando as pessoas a reflectir sobre ela. A sua afirmação, porém, de que se trata de «uma alegoria política e não uma obra estritamente política», viria mais tarde a suscitar alguma polémica, com um membro da assistência a defender Guernica como uma obra intencionalmente política.
Um debate interessante que não ficaria completo sem uma visita ao espaço dedicado a Guernica, onde o poema de Carlos Oliveira, intercalando as várias secções em que o painel foi dividido, funcionou, de facto, como uma autêntica visita guiada a esta obra de Picasso.
Patentes ao público estavam também as fotografias com que Dora Maar registou as transformações que iam acontecendo nos painéis que Picasso ia pintando e os vários estudos, quase todos a lápis sobre papéis azuis e brancos, que foram por ele sendo feitos até à concretização desta obra.
Enfim, uma obra que continua a inspirar gerações, como se pôde ver por uma reprodução da Guernica pintada por vários alunos do 6.º ano de Educação Visual e Tecnológica da Voz do Operário, em destaque também neste espaço.